segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sete vidas

Outro dia estava lembrando sobre a minha infância e contei a alguns amigos sobre minha relação de amor e respeito pelo mar. Amor por ter crescido tão perto e por admirar tal beleza, e respeito por ter me afogado tantas vezes quando criança, o que resultou em 7 pneumonias seguidas.

Uma amiga da minha mãe chegou a dizer que todos aqueles afogamentos tinham acontecido, pois eu tinha uma dívida com Iemanjá e que ela deveria jogar flores ao mar no reveillon. Ela jogou, mas depois de tantos incidentes, eu sempre procurei estar perto, mas não tão perto do mar. A uma distância segura para que eu pudesse aproveitar sem que nada de mal me acontecesse.

A verdade é que realmente existem coisas que fogem ao nosso controle. Mas também existe o fato de que frequentemente nos colocamos em risco em muitas situações. E a forma como encaramos os fatos é que fazem a diferença.

Há quem acredite sim que o meu problema era com Iemanjá. Mas minha mãe sempre colocou a culpa em meu pai por ter tirado minha bóia para passar protetor solar e esquecido de colocar de volta, ou ainda, por ele ter desviado a atenção de mim por um segundo e ter me perdido de vista em uma praia cujo mar era super violento enquanto olhava o ouvido do irmão dela que doía.

Um segundo. O tempo necessário para que as coisas mudem... Sem que tenhamos desejado ou pensado sobre isso. Um momento de distração para que a gente perca o controle e a direção de nossas vidas.

Sexta-feira passada eu também me afoguei. Esqueci os limites e tudo fugiu ao meu controle. Coloquei a minha vida e a de outras pessoas em risco.

Graças a deus tudo se saiu bem e mais uma vez, eu sobrevivi. E, o mais importante, não houve danos a terceiros.

Nessas horas só pensamos que poderia ter sido pior e agradecemos por ter sido apenas um susto, e sabemos que de alguma forma isso acontece para nos dizer alguma coisa. Seja para se ter mais atenção, para se colocar limites, para se perguntar o porquê de muitas coisas e até evidenciar a responsabilidade que temos por nossas vidas, e muitas vezes, pela vida dos outros.

Precisamos ter consciência que nem sempre sobreviveremos para contar as histórias.

Definitivamente, nós não temos sete vidas.

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