sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Ponto final

Às vezes temos a nítida impressão de que falta alguma coisa. Vagamos no vazio e vamos levando as situações como quem acha que as coisas vão se resolver sozinhas e com o tempo. Daí, as relações ficam no ar. Mal-resolvidas. Abertas. Sem perceber que tudo o que precisamos fazer é colocar um ponto final.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A cura

Existem pessoas que entram na vida da gente e não entendemos muito bem como, nem porquê elas permanecem. Na verdade nós sabemos. Elas permanecem porque nós queremos. No fundo dizemos para nós mesmos que uma relação acabou, mas estamos sempre arranjando desculpas pra justificar as recaídas que temos. Como se ignorássemos tudo o que passou e não pensássemos duas vezes quando existe a possibilidade de uma nova chance.

Só que chega uma hora que não existe mais desculpa. Não dá pra acreditar que as coisas serão diferentes, principalmente quando você já percebeu o quão diferentes as pessoas são. Não dá pra esperar algo a mais do que já se teve, simplesmente porque as expectativas são diferentes. É difícil, mas é preciso reconhecer que aquela relação tornou-se desarmônica e só lhe traz prejuízos. Simplesmente porque você espera mais do que o outro pode lhe dar. Mas ainda assim o outro vem e se alimenta de você, como um parasita, e você aceita e não reage, como um hospedeiro, cada vez mais frágil.

Chega de alimentar uma relação assim. A história se repete. E tem sempre o mesmo fim.

Insistir não vai fazer um final diferente.

É preciso livrar-se desse mal. É preciso buscar a cura.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O abcesso

Havia um caroço. Começou pequenininho, ali, atrás do pescoço. No início não dava muito pra ver, mas eu sentia. Aquilo me incomodava. O tempo passou e ele começou a crescer. De início não dei muita bola porque no fundo achava que aquilo podia desinchar sozinho. Mas não foi o que aconteceu. A minha vontade de arrancá-lo fora também contribuiu com isso. E quando me dei conta, ele já estava enorme, e não havia tempo que passasse que o fizesse diminuir. Às vezes a roupa de ginástica machucava. E ele não estava bonito para estar nas costas de uma menina. Ele estava visível e inflamado. Aquilo doía.





Isso me fez lembrar algo parecido que meu pai já tinha tido atrás da cabeça, e que tinha tido que tirar por meio de uma micro-cirurgia. Comentei com ele, e ele ficou preocupado, claro. Marquei um dermatologista, mas estes médicos nunca têm horário para emergências. Então, decidi ir ao hospital em plena terça-feira de carnaval.





Na recepção o atendente perguntou se eu podia falar o motivo da consulta. Antes que ele falasse isso eu já estava pensando no que ia dizer. No fim das contas achei melhor dizer que tinha um caroço atrás do pescoço. Afinal, eu não sabia o que era de fato. E ele colocou na ficha: um abcesso.





Ao ser atendida o médico pediu que eu fizesse uma ultrasonografia para ver o que tinha dentro do nódulo. Fiz tudo como manda o figurino. Depois das idas e vindas pelo hospital, o médico concluiu que provavelmente aquilo era um cisto sebáceo que inflamou e se tornou um abcesso. E chamou a cirurgiã.





A cirurgiã me veio com duas opções: ir pra casa, tomar 7 dias de antibiótico, fazer compressa de água quente e caso não diminuísse retornar em 3 dias para drenar o nódulo. Ou, drenar o nódulo, e tomar do mesmo jeito o antibiótico, e mais 3 dias de anti-inflamatório. A diferença seria a intensidade da dor no primeiro caso, uma vez que o antibiótico já estaria fazendo efeito.




Mas a idéia de voltar pra casa sem ter resolvido o problema, não fazia sentido nenhum pra mim. Fiquei pensando quantas vezes na vida escolhemos a primeira opção pelo medo de sentir dor. Mas fato é, que adiar o sofrimento não evita que sintamos dor no percurso. E, pelo contrário, não resolver pode trazer complicações bem maiores e muitas vezes irreversíveis.




E então, sem titubear, eu respondi: "Vamos acabar logo com isso. Vamos drenar."

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Pesos e medidas

Todos perguntavam como quem já sabia a resposta, afinal passar o carnaval no rio seria o mais óbvio. E não era à toa que as pessoas se espantavam quando eu dizia que não. E faziam uma expressão de desespero quando eu dizia que ficaria por aqui. Se eu pudesse ler pensamentos diria que eles achavam que eu não ando lá muito sã.
Na verdade, acho que nunca estive tão lucida.

Confesso, voltei da última viagem à cidade maravilhosa decidida que ficaria um bom tempo sem visitá-la. Faz parte do meu processo de adaptação. Do meu desapego ao Rio de Janeiro. É o meu jeito de tornar as coisas mais fáceis e me sentir de fato dessa nova cidade. E, de fato, sinto-me cada vez mais daqui. Mudei de casa. Escolhi um time paulista pra torcer e às vezes acho até que estou perdendo meu sotaque. Mas meus amigos falam pra eu ficar tranquila que eu continuo chiando bastante e eu fico feliz em ouvir isso. :)

Outro ponto é o meu estado de espírito nos últimos tempos. Estou tão feliz e serena com a minha mudança de casa, de bairro, de vida, que ficar aqui no carnaval era mais uma oportunidade para aproveitar o lar e conhecer a vizinhança. Corridinhas no parque, cineminha, caminhadas pelos arredores, farmácia, mercado, até hospital eu conheci, e o melhor: tudo a pé. Sem dúvidas, a oportunidade perfeita para descobrir o que fazer quando não se tem nada pra fazer. E para conhecer ao que se pode recorrer quando necessário.

Além disso, não podemos esquecer o fator dinheiro. Gastei bastante para deixar o lar do meu jeito. E acho que na vida a gente precisa fazer alguns sacrifícios. E eu abri mão de passar um carnaval em qualquer outro lugar para ter a minha casa do jeitinho que eu quero o ano inteiro.

Eu tenho os meus motivos. Legítimos. Mas eu entendo a cara de espanto das pessoas. Pra quem está de fora, talvez não faça tanto sentido como pra mim.

Mas não é tão preocupante assim passar o carnaval em São Paulo. É só uma questão de pesos e medidas.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Em cima do muro

Fazer escolhas. É o que fazemos o tempo todo.

O que precisamos aprender é a nos responsabilizar por elas. Não é uma questão de julgamento. De certo ou errado. Mas de assumir o que queremos para nós. Buscar e fazer acontecer. Devemos seguir nosso coração, fazer o que acharmos melhor e assim tentar viver a vida de uma forma leve. Mas para isso precisamos assumir nossa posição, ter consciência e estarmos preparados para agüentar as consequências.

A vida não tem manual, nem macete. A gente erra tentando acertar e muitas vezes acerta sem nem pensar. Não há vergonha nenhuma em olhar para trás e perceber que talvez aquela não tenha sido a melhor escolha. Mas foi a sua escolha naquele momento. Aquela pela qual você acreditou e lutou. Fez a sua parte. Além do mais, é assim que crescemos, que nos desenvolvemos.

Também precisamos entender que existem pessoas ao nosso redor. E que sim, uma ação nossa reflete sim em outras pessoas. Assim, não cabe a nós somente olhar para o espelho ou para o próprio umbigo. Vamos olhar para os lados e nos policiar para que nossos atos não prejudiquem ninguém. E ainda, vamos olhar para os lados e estender as mãos a quem está ao nosso redor.

A física explica. Ação e reação. Se queremos falar, devemos estar preparados para ouvir. Não vale se esquivar ou jogar a culpa no primeiro que aparece na sua frente. Ou ainda dar uma de "joão sem braço". Nós somos responsáveis. Nós guiamos a nossa vida. Nós devemos tomar as rédeas das situações. Não vale esperar a lua cheia, o vento ou a maré. Nós decidimos. E, definitivamente, em cima do muro é um lugar que não existe.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Que bicho te mordeu?

Um dia tudo faz sentido. Existe sintonia, sinergia. Existe conversa. Tudo é perfeito.
No outro, tudo está de pernas para o ar. O encontro se desencontra e não somos mais um par.

O tempo passa e vemos que talvez nunca tenhamos sido. Que tudo começou em um momento frágil na vida dos dois onde um serviu de bengala para o outro. Assim, o que era perfeito, na verdade não era. Apenas parecia ser. Ou quisemos acreditar que era. Afinal, quando tudo está tão ruim, tendemos a nos agarrar ao que aparece e acreditar que aquela é a nossa única salvação.

A verdade é que a salvação para as pessoas não são outras pessoas, mas elas mesmas. É preciso reconhecer o problema, buscar as soluções e assim, mudar o cenário. A situação. Pois ser perfeito ou não é uma questão de referência. Quando o cenário não é dos melhores, qualquer coisa que seja pode ter um efeito potencializado, seja para o bem ou para o mal, e se tornar uma grande coisa. Já em um cenário positivo, costumamos ser mais exigentes e qualquer coisa passa facilmente despercebido.

A grande questão é que as pessoas têm diferenças. Estas que se revelam de acordo com o ambiente. Não falo de diferença de idade, cor, credo ou classe social. Falo de visão de mundo. Na forma como enxergamos e encaramos a vida. E essas diferenças elas aparecem com o tempo. E nos espantamos em nos deparar com elas e pensar que nunca tínhamos reparado antes. É quando vemos, claramente, que se não tivesse acabado do jeito que acabou, teria acabado de qualquer jeito.

Pessoas muito diferentes.
Não foi nenhum bicho que mordeu. O tempo passou e a situação mudou.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Comer, rezar, amar

Comecei a ler um livro. Muito bem recomendado.

Quem já leu, fica ansioso para falar sobre. Compartilhar a deliciosa experiência que aquela leitura lhe trouxe. Fazia tempo que ameaçava comprá-lo. Semana passada uma amiga querida me emprestou.

Chego à noite, deito na rede e devoro aquelas páginas. Viajo junto com a personagem e divido as angústias de se estar sozinha, por exemplo. Assim como eu, milhares de outras mulheres também se identificam com os questionamentos do livro. Não é à toa que quem ainda não leu, ao menos já ouviu falar.

A verdade é que não dá vontade de parar de ler. E é enorme a ansiedade em saber o final.

Mas calma. Um capítulo de cada vez. O prazer também está na descoberta, pouco a pouco. No caminho. Na construção. Muitas vezes a busca é mais importante que o encontro. Por isso, sem pressa. Vamos aproveitar a experiência. Não podemos esquecer que ao chegarmos ao fim, a história acaba...

A crise

Ele foi para o intercâmbio, desses de 3 meses para trabalhar nos EUA. Mas não contava que não arranjaria emprego por causa da crise. Como o meu irmão, outros tantos.

Ouço por aí que estão cortando e me espanto quando vejo amigos arrumando suas coisas e indo para casa. Como meus amigos, outros tantos.

Pessoas me perguntam se minha empresa está contratando, pois fulano foi demitido e está desesperado. Como os amigos dos amigos, outros tantos.

Abro o jornal e a manchete diz que até a Microsoft não está imune à crise e demite 5 mil funcionários. Como os da Microsoft, outros tantos.


Quem ainda não ouviu algo parecido?

É a crise. Tempos de incerteza.

Salve-se quem puder.

Mente sem lembranças

Acorda no dia seguinte, rindo de si mesma. Vagas lembranças da noite anterior. Muita pressão, tensão, stress. A válvula de escape? Alguns shots de tequila e boas doses de diversão. Se lhe perguntam se lembra de alguma coisa, diz que apenas flashes. Nessas horas, é realmente melhor não ter lembranças e ignorar a própria história, já que o lema moderno é não ter apego.

A lembrança nos conecta aos momentos vividos, e daí pode vir o sentimento, a vontade, o sonho. E sim, a saudade. Mas as pessoas não querem se envolver, não querem se entregar. Viramos produtos. Perecíveis. Com prazo de validade a vencer. Logo. Então, pra quê dar espaço ao sentimento? Pra quê criar condições para sentirmos saudade? Não temos tempo pra isso. O tempo urge. Os desejos são cada vez mais efêmeros. As relações cada vez mais superficiais. Os prazeres são momentâneos. Seguimos nossos instintos e nos comportamos feito animais. É o que alguns costumam chamar de destruição criativa.

Para isso, não precisa ser racional. Basta uma boa dose para se soltar e não se preocupar. O dia seguinte vem, mas sem resquícios ou cobranças quaisquer do dia anterior. Não existe linearidade. Cada dia é um dia. Como coisas aleatórias e pontuais. Que não precisam fazer sentido, nem ter conexão alguma com qualquer outra coisa. É o hedonismo desenfreado. A busca incessante pelo prazer. E o individualismo cada vez mais latente.

Assim as pessoas fazem o que querem e tudo é (ou fingimos ser) absolutamente normal. Sempre temos um álibi para justificar o que não tem justificativa e para nos proteger dessa modernidade-líquida. Afinal, temos que aproveitar tudo... mas pra quê lembrar?!

Desse jeito a vida segue como se nada tivesse acontecido. Só me preocupa a história que construímos nessa de quem não quer construir nada.

Está explicado porque as pessoas bebem cada vez mais.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Próximo capítulo

Durante muito tempo senti falta de referências aqui em São Paulo. Senti-me como nômade. Aquele que pode ser de todos os lugares e ao mesmo tempo de nenhum. Achava esquisito muitas vezes não ter vontade de ir para casa. Mas era porque eu não tinha a minha casa.

Ensaiava comprar coisas pra deixá-la mais a minha cara. Mas no fundo sabia que aquilo era transitório. Não duraria muito tempo. E assim, desistia das compras e economizava.

Nos fins de semana que podia curtir meu canto, ia pra rua cedo e só voltava à noite. Como se fugisse da minha própria casa.

De alguma forma eu ainda estava lá. Até o nome do prédio não negava: Rio de Janeiro.

Foi quando percebi que meu desejo por ter meu espaço era cada vez mais forte. De organizar as coisas do meu jeito. De poder andar de camisola ou do jeito que eu quisesse, sem me preocupar se estaria incomodando alguém.

Talvez nem eu esperasse que tudo acontecesse tão rápido. Mas como tudo na minha vida é intenso, aconteceu e larguei o Rio de vez. Hoje eu tenho a minha casa e ela tem a minha cara. Uma rede na sala, de frente pra varanda. Fotos na parede. E o melhor, tudo do meu jeito. Do meu gosto.

Agradeço todos os dias. A Deus e aos meus pais, que me deram força e me ajudaram a dar esse novo passo. Que entendem o fato de eu evitar ir ao Rio e acabam vindo me visitar para matar as saudades, ainda que não gostem de São Paulo.

Depois de nove meses tenho minha referência e sinto vontade de voltar para a minha casa. Tenho amigos e vontade de levá-los para o meu lar. E sinto um bem-estar enorme de poder estar vivenciando tudo isso. Começo a viver um novo capítulo dessa minha história. Sem saudades do Rio ou promessa de volta.

E com a certeza que eu sempre tive. Eu vim pra ficar.

O jogo

Desde pequenos somos condicionados a competir. Seja nos video-games ou até mesmo nos esportes, e assim aprendemos a jogar, a concorrer na vida. De fato competir é muito desafiador. Estimulante. Mas a verdade é que seja lá qual for a modalidade, jogar sempre contempla vencer ou perder.

Mas, precisamos reconhecer que nem tudo é um troféu. Nem tudo é um prêmio.

Pessoas são pessoas. São sentimentos. E isso é o que de mais valioso pode existir. Mais do que qualquer competição. Mais do que qualquer jogo. Não deve haver vencedores ou perdedores. E nesse caso se existe um desafio é o de construir uma vida a dois. Dia após dia. Cedendo de um lado. Do outro também. Buscando o bem comum, o amor e a felicidade.

Mas quantas pessoas olham e fingem que não vêem. Gostam e guardam para si. Morrem por dentro mas não dão o braço a torcer. Ignoram o coração que bate forte. Passam por cima por orgulho ou até medo. Fazem pouco do sentimento, que no fundo é tudo o que buscamos, o que dá sentido à vida.

Ainda que muitos insistam nisso, eu não quero jogar.

Eu quero é amar.

Intolerância

Às vezes somos tão intolerantes que acabamos sendo injustos com quem gostamos.

Não fazemos por mal, também temos nossos motivos e dias ruins.

Mas a verdade é que somos incapazes de olharmos para o lado e perceber que muitas vezes tudo o que as pessoas precisam é de atenção. Que existe uma enorme carência alimentada pelos vazios do dia-a-dia e externalizadas das mais diversas formas, que de fora parecem sem sentido, fora de contexto. Mas que no fundo tudo o que precisamos é olhar e compreender o outro.

É difícil reconhecer que erramos. Mais difícil ainda é aceitar que as pessoas são como são. Não vão mudar. Sempre foi assim. E aí fica a pergunta: o que nós podemos fazer sabendo disso?

Conhecendo a si mesmo e ao outro temos tudo o que precisamos para manter um bom convívio. Precisamos aprender a controlar as emoções e não nos deixar chegar aos extremos tão facilmente. Olhar para o lado. Ouvir. Dar carinho. Tentar ter um pouco mais de paciência e evitar que sejamos injustos com quem amamos, com quem só quer o nosso bem. Com quem nos carregou na barriga durante 9 meses e nos carrega no coração durante toda a vida. Com quem se preocupa. Que está ao nosso lado em todas as horas. Mesmo distante.

Com quem liga dizendo que viu a enchente na tv e quer saber se está tudo bem, se você está viva. Com quem se oferece pra vir ajudar quando sabe que você está de mudança. Quando sabe ler quando você está triste, quando você está apaixonada. Que te conhece e te ama exatamente como você é. Com todas as qualidades e defeitos. E é capaz de perdoar mesmo com todas as injustiças que cometemos.

Talvez, realmente seja como "padecer no paraíso". E talvez só sejamos capazes de as entendermos quando nos tornarmos como elas. Mas a verdade, reconheço, fui injusta e fiquei com o coração na mão.

E apesar de tudo elas são perfeitas.

São mães.