quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Tudo que é sólido se desmancha no ar

Demorei a escrever pois estava difícil parar e organizar os pensamentos.

Tudo toma grandes proporções quando estamos longe do nosso lugar. Longe do conforto da família. E, principalmente, sozinha nessa cidade fria e cinzenta.

Fiz o possível para que minha adaptação fosse a menos traumática possível. Mas nem por isso deixo de viver as angústias que um processo de mudança como esse oferece para a gente.

As coisas não estão fáceis. Mas também não achei que seriam. Certamente não estou poupando em nada meu potencial de enfrentar desafios e tomar decisões. De me reinventar a cada novo dia. De perceber que eu tenho medida e que, mesmo com sacrifício, é possível viver com o que eu tenho... Hoje, entendo perfeitamente o peso de sustentar uma casa e tiro os eletrodomésticos da tomada para economizar na conta de luz.

Vivo em busca do equilíbrio entre a razão e a emoção. E desfruto boas doses de alegria e tristeza. Sim, elas coexistem.

Crescer dói, bastante. E fica cada vez mais evidente a importância e a necessidade de reconhecer meus limites, e ainda, estabelecer limites.

É impressionante a velocidade com que as coisas acontecem. A forma. No meu caso, são apenas 5 meses em uma atmosfera de desafio, mudança e adaptação. Isso me lembra as aulas de sociologia, quando estudava a modernidade. Em que Berman dizia que o homem moderno vive sob o “redemoinho de permanente mudança e renovação, de luta e contradição, de ambigüidade e angústia”. Um misto de sentimentos, bons e ruins. Um tempo em que o tempo de digerir as coisas é rápido demais. Em que preciso ter a lucidez de entender, me posicionar e ainda encontrar forças para renascer das cinzas. Continuar seguindo em frente e ter a consciência de que há muito mais por vir.

Hoje consigo entender, mais do que nunca, o que aqueles autores queriam dizer com a síntese da vida moderna: a dialética. Onde existe a necessidade da destruição do velho para construir o novo. E onde o velho carrega o germe de sua própria destruição.

Olho-me muitas vezes e não me reconheço. Vejo-me quebrando meus próprios tabus, afrouxando minha radicalidade e minha severidade comigo mesma. Começo a perceber que entre o branco e o preto existe o cinza, e que não precisamos viver nos extremos. Começo a me permitir.

Vivemos o império do efêmero. Das modas rápidas. Da sociedade do consumo. Do individualismo. Da dificuldade de entender o outro e estruturar relações. A modernidade impõe a insegurança das incertezas, a crise dos parâmetros, a desarmonia. E isso tudo incomoda. Muito.

Tudo muda num piscar de olhos. Numa frase. Num silêncio. A linguagem não verbal muitas vezes diz muito mais do que qualquer palavra. Mas não medir as palavras pode ter efeito ainda mais devastador.

A cada segundo uma escolha e ao mesmo tempo uma renúncia. A cada ação, uma reação.

E de repente, não mais que de repente, tudo o que é sólido se desmancha no ar...

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