quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Braços abertos

Volta e meia me perguntam se eu sinto saudades do rio. Eu nunca sei bem o que responder.

Fato é que mudar de cidade é uma experiência antropológica. Tirar a lente da nossa cultura e ter que se adaptar ao novo é sempre um grande desafio, e no fim das contas promete ser bastante construtivo. Você passa a se perceber diferente, você passa a se conhecer melhor, simplesmente pq vc é o diferente nesse novo lugar, e essas diferenças ficam em evidência a todo momento. É outra atmosfera, outro comportamento, outro clima, outras gírias, outras formas de se vestir, de falar e se expressar. Hoje entendo quando me diziam que se eu usasse os shortinhos e as sainhas que estava acostumada a usar nos dias de sol pelas calçadas do leblon, em são paulo, certamente não seria bem vista. Não foi à toa que vendi 2/3 das minhas roupas antes de vir pra cá...rs...sábia decisão.

O engraçado de tudo isso, é que não estou completamente isolada da minha cultura. Volta e meia entro em contato por amigos, familiares e até mesmo quando visito minha cidade e percebo tudo de uma forma diferente. É a tal relativização. Precisamos sair do nosso lugar para perceber exatamente como somos. Quem somos. Para realmente nos conhecermos.

Eu amo minha cidade, sim. Pra mim ela sempre será a cidade maravilhosa, mesmo com todos os defeitos. E exatamente por isso todas as vezes que a visito, tento viver um pouquinho de cada lembrança gostosa que trago comigo. Seja pela corridinha no calçadão apreciando a vista, a água de côco nas areias do leblon contemplando o mar, o japa gostoso na Dias Ferreira na cia de amigos, e sim, é claro, estar muito pertinho da minha família.

Dizem que a distância une. Eu não tenho dúvidas. Você não só se olha e se percebe diferente, como também descobre o que realmente sente. Não só pelo lugar, mas pelas pessoas que ali ficaram. É a falta, é a distância que te faz perceber isso. Saber que as pessoas não estão mais tão próximas fisicamente nos fazem fortalecer ainda mais os nossos laços. E é por isso que o Rio de Janeiro é sinônimo de tantas coisas boas. Um lugar onde hoje eu vou de passagem. De encontros e despedidas. Mas de momentos e pessoas muito especiais.

Apesar de trazer todas essas lembranças gostosas, não me vejo mais morando lá. Sim, por que vim não só de mala e cuia, mas de coração. Não é questão de preferir uma ou outra. São completamente diferentes. Uma será sempre a minha terra natal, meu recanto. E a outra é onde eu vivo, onde recomeço e onde estou de braços abertos para tudo o que ela pode me oferecer.

:)

3 comentários:

Jeff Paiva disse...

Ser estrangeiro na sua própria terra é uma experiência sempre interessante.

Quando saímos de nosso rincão e nos aventuramos em outra cultura nos tornamos um pequeno satélite, em um equilíbrio inconstante pela força gravitacional de onde viemos e onde estamos.

Crescemos sempre nessas situações. e estar de braços abertos é o primeiro - e mais importante passo - para começar uma história toda nova. Sem esquecer as lições que nos acompanham desde a origem.

Bem-vinda, carioca paulistana.

Luciana Andrade disse...

Amigaaaa
Me deu uma vontade de chorar de saudade não só de você mas de tudo que o Rio, a cidade mais linda não só do Brasil mas do mundo nos proporcionou sempre. Um aperto esquisito... Acho que tô sensível...rs

Unknown disse...

Mari!

Da mesma forma que você sente a diferença de viver em uma nova cultura, nos sentimos a diferença de ter alguém como você aqui por perto!

Sua alegria, sua simpatia, sua beleza, sua inteligência... você também transforma, torna diferente - e pra muito melhor - nosso ambiente!

Vê se melhora logo! Estamos com saudades! =)

Bjo!